quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Deus para Agostinho... e para nós???


"Deus Luz inteligível, em quem, por quem e mediante quem tem brilho inteligível tudo o que brilha com inteligência. Deus, cujo reino é o mundo inteiro, a quem o sentido não percebe. Deus, de cujo reino procede também a lei para os reinos da terra. Deus, de quem separar-se signfica cair, a quem retornar significa levantar-se, em quem permanecer significa ser firme. Deus, de quem afastar-se é morrer, ao qual voltar é reviver, em quem habitar é viver. Deus a quem niguém deixa senão enganado, a quem ninguém busca senão estimulado para isso, a quem ninguém encontra senão purificado. Deus, a quem abandonar é o mesmo que perecer, a quem acatar é o mesmo que amar, a quem ver é o mesmo que possuir. Deus, a quem a fé nos estimula, a esperança nos eleva, o amor nos une." (Santo Agostinho)

Deus está acima de tudo e de todos. Esse discurso até parece sobre um "deus" distante, orgulhoso, prepotente, irado... Infelizmente essa é a concepção que muitos dos nossos contemporâneos têm. Deus é Soberano! Todo Poderoso, e mesmo assim, tem revelado parte do Seu Glorioso Ser a nós. Quando passamos realmente a conhecê-lo, passamos a conhecer a sua Misericórdia. A misericórdia de Deus se "materializou" em Jesus Cristo. O amor não estava mais vinculado ao ritualismo e ao medo (segundo a Lei), mas o amor passou a ser praticado, experimentado. Saiu do idealismo e se tornou empírico. Amar a Deus é uma tentativa de corresponder ao Grande Amor com que Ele nos amou. Para chegar à conclusão de Agostinho, leva-se tempo, muito tempo de reflexão.... Mas graças a Deus porque Ele também se revela ao pobre, ao iletrado, ao marginalizado... Ele verdadeiramente não faz acepção de pessoas, Ele simplesmente AMA!

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Resenha: O Cristo dos Pactos (Alianças)


Capítulo 1

A Natureza das Alianças Divinas

Que é Aliança? Qualquer definição do termo “aliança” deve admitir claramente amplitude tão larga quanto o exigem os dados da Escritura. Aliança é um pacto de sangue soberanamente administrado, um pacto de vida e morte, um laço inviolável. É um pacto ou relacionamento, é sempre uma pessoa, ou Deus ou o homem, quem faz uma aliança que resulta em relação em “conexão com”, “com” ou “entre” pessoas. A estreita relação entre juramento e aliança enfatiza o fato de que a aliança em sua essência é um pacto. Pela aliança as pessoas tornam-se comprometidas umas com as outras.

Aliança é um pacto de sangue, deriva de morte, expressa o caráter absoluto do compromisso entre Deus e o homem no contexto da aliança. A relação é sempre formal e estendem-se até as últimas conseqüências de vida e morte. Na medida em que se faz uma aliança, animais são “cortados” em cerimônia ritual, simbolizando “penhor de morte”. Os animais desmembrados representam a maldição que o autor do pacto invoca sobre si mesmo caso viole o compromisso que fez. O sangue tem significação nas Escrituras porque representa vida, julgamento sobre a vida “sem derramamento de sangue não há remissão de pecados” (Hb 9.22). Uma aliança é um “pacto de sangue” que compromete os participantes à lealdade sob pena de morte. A morte é tanto para ativar o testamento e a disposição de última vontade, quanto para estabelecer uma aliança. No caso de uma “aliança”, a morte está, no princípio da relação entre duas partes, simbolizando o fator maldição potencial na aliança. No caso de um “testamento”, a morte está no fim da relação entre as duas partes, efetivando uma herança. É no contexto da morte por aliança, não por morte testamentária, que deve ser entendida a morte de Jesus Cristo. Cristo morreu no lugar do pecador. Por causa da violação da aliança, os homens foram condenados a morrer. A perspectiva total do povo do Antigo Testamento quanto a sua relação com Deus era consistentemente de aliança. Aliança é um pacto de soberanamente administrado, o soberano Senhor dos céus e da terra dita os termos da sua aliança.

Capítulo 2

A Extensão das Alianças Divinas

Em nenhum período da história da redenção, de Noé a Jesus Cristo, fica fora do reino do tratamento em aliança de Deus com seu povo. Em Jeremias 31 vemos a alusão à narrativa da criação do Gênesis e não ao estabelecimento da aliança de deus com Noé. Em Oséias 6.7 temos a passagem em que o termo “aliança” pode ser aplicado à ordem da criação declara que o povo de Israel, “como Adão”, transgrediu a aliança. Assim como Adão transgrediu o arranjo da aliança estabelecida pela criação, assim Israel transgrediu a aliança ordenada no Sinai. Oséias pretende sugerir que Deus estabeleceu uma relação de aliança com o homem fora de Israel mediante a criação. Pela criação, Deus une-se ao homem em relação de aliança. Depois da queda do homem no pecado, o Deus de toda a criação graciosamente uniu-se ao homem outra vez mediante a promessa de redimir um povo para si mesmo da humanidade perdida.

Capítulo 3

A Unidade das Alianças Divinas

As Escrituras apresentam uma série de relacionamentos em termos de alianças instituídas pelo verdadeiro Deus vivente. O relacionamento original entre Deus e o homem na criação, como primeiro pacto estabelecido entre Deus e o homem, depois da queda. A evidência cumulativa das Escrituras aponta definitivamente em direção ao caráter unificado das alianças bíblicas, as alianças de Deus manifestam unidade estrutural; e, em segundo lugar, as alianças de Deus manifestam unidade temática. Deus fez um compromisso de aliança com os patriarcas. Prometeu-lhes a terra de Canaã. Por causa dessa promessa, Deus agiu soberanamente nos dias de Moisés para livrar Israel do Egito, e ao se lembrar de sua aliança com Abraão, Deus age em favor de Israel.

As alianças abraâmica, mosaica e davídica não suplantam umas às outras, mas se suplementam. Quando Deus determinou relacionar-se com seu povo em termo de aliança, ele seguiu critério genealógico, referindo-se ao conceito de “semente”. As promessas genealógicas das alianças de Deus asseguram sua participação das bênçãos tanto nas alianças abraâmica e mosaica quanto na davídica. A aliança de Deus para redimir um povo para si mesmo é, na verdade, um todo unificado. No momento crucial, Jesus comunica por palavra e ato que a distribuição do cálice representando seu sangue deve ser entendida como a cerimônia do estabelecimento da nova aliança. A aliança não era mais uma promessa a ser visualizada apenas. Era realidade para ser desfrutada. A antecipação do futuro é focalizada sobre um único indivíduo (Jesus) que incorporará em si mesmo a essência da aliança, enquanto funciona ao mesmo tempo como cabeça messiânica. Ele mesmo garante a unidade das alianças porque é, ele mesmo, o coração de cada uma das várias ministrações da aliança.

Capítulo 4

Diversidade nas Alianças Divinas

Uma unidade das alianças caracteriza o tratamento de Deus com o homem desde a criação até a consumação. A expressão “aliança das obras” tem sido aplicada com o relacionamento de Deus com o homem antes da queda em pecado, tem sido um esforço em enfatizar as obras praticadas por Adão, que proibiram-no de receber as bênçãos divinas. A frase “aliança da graça” tem sido usada para descrever o relacionamento de Deus com o seu povo, após a queda do homem em pecado, pois o homem tornou incapaz de praticar obras adequadas para merecer a salvação necessitando da graça de Deus. Esta divisão no tratamento da aliança de Deus com o homem enfatiza a necessidade absoluta de se reconhecer um relacionamento pré-queda entre Deus e o homem que requeria obediência perfeita como base meritória de bênçãos. Na história real, Deus ligou-se ao homem que ele criara e declarou “muito bom”. As expressões “aliança da criação” e “aliança da redenção” categorizam de maneira mais apropriada o pacto de Deus com o homem antes e depois da queda. A “aliança da criação” refere-se ao pacto que Deus estabeleceu com o homem na criação. A “aliança da redenção” inclui as vária ministrações pelas quais Deus ligou-se ao homem desde a queda. A “velha aliança”, pacto antes de Cristo, caracteriza-se como “promessa”, “sombra”, e “profecia”; a “nova aliança” pode ser caracterizada como “cumprimento”, “realidade” e “realização”. Uma vez que Cristo veio, o tratamento de Deus com o homem não pode mais voltar aos antigos moldes.

Capítulo 5

A Aliança da Criação

Pelo próprio ato de criar o homem à sua semelhança e imagem, Deus estabeleceu um relacionamento único entre ele e a criação e determinou o papel do homem na criação. Quando as Escrituras registram que Deus “abençoou” o dia de Sábado em conjunção com a sua atividade criadora, sua benção dada a este dia tem efeito significativo para o mundo. Além disto, a referência ao fato de Deus abençoar o dia não deve ser interpretada como significando que Deus abençoou o dia com respeito a si mesmo. Deus criou o sábado porque ele era para o bem do homem e de toda a criação. Deus abençoou o homem por meio do Sábado, livrando-o da servidão de trabalhar. O homem não devia ser cativo da criação. A razão para a guarda do sábado relaciona-se não somente com a criação, mas também com a redenção.

A segunda ordenança da criação de Deus que afetou a vida total do homem é o casamento. Essa ordenança origina-se em Deus, e demonstra que o propósito da existência do homem como ser criado não é ser um auxílio para a mulher. Mas o propósito da existência da mulher como ser criado é glorificar a Deus sendo um auxílio para o homem, uma auxiliadora correspondente a ele. No presente, a mulher compartilha com o homem da responsabilidade de subjugar a terra para a glória de Deus. Une-se a ele na tarefa de formar uma cultura que glorifique a Deus, o Criador. A terceira ordenança divina tem conexão com o princípio do sábado. Pelo próprio modelo do Deus da criação, e pela sua benção concedida à criação em termos deste modelo, estabeleceu-se a ordem do homem com relação ao trabalho, implicando responsabilidades ao homem que afetariam todo o seu padrão de vida. O trabalho deve ser visto como o meio principal pelo qual é assegurado o desfrute da criação por parte do homem.

A aliança da criação possui um aspecto relacional em sua unidade, focando o mandamento e a responsabilidade total do homem criado. Todas as ações de Adão tinham implicações diretas na sua relação com o Deus da aliança da criação. Sua vida como criatura da aliança deve ser vista como um todo unificado. Essa aliança tem sido violada, não se pode achar outro escape da maldição da morte senão mediante uma substituição de sangue, a restauração da aliança só pode ser realizada pelo Cordeiro de Deus.

Capítulo 6

Adão: A Aliança do Começo

Gênesis 3.14-19 registra as estipulações da ministração adâmica da aliança da redenção. Deus fala a Satanás, à mulher e ao homem, seguindo a ordem de defecção de lealdade ao Criador. Elementos de maldição e de benção encontram-se em cada mensagem, servindo assim, para unir, de maneira inseparável, a aliança da criação à da redenção. Deus dirige a palavra à serpente, instrumento de Satanás, decretando a maldição do julgamento. A serpente deve rastejar como sinal de humilhação. A palavra à mulher inclui maldição e benção. A mulher terá filhos, que constituem uma benção muito significativa, porém, Deus multiplicou grandemente o sofrimento da mulher com referência à concepção. A palavra de Deus ao homem contém também benção e maldição. A benção está na provisão de sustento para o homem “pão”, ou seja, o sustento essencial à manutenção da vida será provido. Mas a maldição está envolvida “No suor do teu rosto comerás o teu pão” (Gn 3.19). A maldição do homem reside no trabalho para que a terra produza, e a maldição máxima do homem consigna-o à sepultura. Estes pontos enfatizam a relação orgânica dessa aliança com toda a história que se segue. A criação não tem liberado aos redimidos seu pleno potencial, na esperança da consumação o homem pode crer que Deus restaurará e trará todas as coisas a seu serviço para a glória de Deus.

Capítulo 7:

Noé: A Aliança da Preservação

A aliança com Noé une os Propósitos de Deus na criação com seus propósitos na redenção. Noé, sua semente e toda criação se beneficiam desse relacionamento gracioso. O princípio de particularidade tal como é visto no favor de Deus para com Noé representa uma antiga manifestação de um tema que continua mediante a aliança da redenção. Pode ser que a graça de Deus impediu Noé de afundar-se no nível de depravação encontrado entre seus contemporâneos. Mas nada indica que a posição favorecida de Noé surgiu de qualquer outra coisa que não a graça do Senhor com ele. A preservação da humanidade é a preservação da imagem do próprio Deus está estampada no homem, a preservação da vida existe porque toda vida criada é sagrada. Todo universo criado, incluindo a totalidade da humanidade, beneficia-se dessa aliança. O testemunho de graça da criação para com o homem pecador provê ainda a plataforma da qual será lançada a proclamação universal do evangelho (2 Pe 3.-10). A aliança com Noé provê a estrutura histórica em que o princípio Emanuel pode receber sua realização completa. O fato de Deus estar “conosco” envolve não somente o derramamento de sua graça sobre o seu povo; envolve também o derramamento da sua própria ira sobre a semente de Satanás.

Capítulo 8

Abraão: A Aliança da Promessa

O Aspecto soberano do relacionamento de Deus com Abraão tornou-se muito claro por ocasião da chamada inicial do patriarca. A palavra de Deus lhe veio em termos de uma ordem solene: “Sai da tua terra e da tua parentela” (Gn 12.1). Deus assegurou promessas magnânimas a Abraão. Mas, agora o patriarca tornara-se idoso. Sua mulher permanecia sem filho. O Senhor declarou inequivocamente, suas intenções soberanas. Ninguém senão um filho saído dos próprios lombos de Abraão possuirá as promessas de Abraão. A cultura dos dias de Abraão tornava possível “adotar” na família um servo do lar. Este “filho” adotivo tornava-se herdeiro legal, era o caminho mais fácil. O Senhor graciosamente garante ao patriarca a ratificação formal de uma pacto-aliança. Ordena a Abraão que apresente diante dele determinados animais (v. 9). Pelo penhor inerente à morte no processo relativo ao estabelecimento de aliança, um “pacto de sangue” é firmado. A aliança de Deus com Abraão pode ser caracterizada particularmente como a aliança da promessa. Pela cerimônia solene descrita em Gênesis 15, Deus promete redenção. Essa aliança será cumprida porque Deus assumiu sobre si mesmo a total responsabilidade em velar pelo seu cumprimento. Em Jesus Cristo Deus cumpre a sua promessa. Nele Deus está conosco. Ele oferece o próprio corpo e o próprio sangue como vítima das maldições da aliança e diz: “Tomai e comei, isto é o meu corpo. Isto é o meu sangue da aliança derramado por muitos. Bebei dele todos”.

Capítulo 9: O Selo da Aliança Abraâmica

Gênesis 15 descreve a instituição formal da aliança abraâmica. Deus, simbolicamente “passa entre os pedaços”, e torna solene a promessa ao patriarca. Gênesis 17 registra a instituição do selo oficial da aliança abraâmica. O patriarca e sua descendência recebem na carne o sinal da aliança. A circuncisão como selo da aliança abraâmica permanece permanentemente com o patriarca para lembrar-lhe a certeza das promessas. Neste contexto durável, o selo da aliança do Espírito Santo habita com o crente até o dia da redenção como um símbolo do seu comprometimento de ser do Senhor (cf. Ef 1.13,14).

A circuncisão simbolizava a inclusão na comunidade da aliança estabelecida pela iniciativa da graça de Deus. Era o sinal da aliança. Circuncisão também indicava necessidade de purificação, o ato higiênico da remoção do prepúcio simbolizava a purificação para o estabelecimento de uma relação de aliança entre um Deus santo e um povo profano. Circuncisão denota ainda que o homem é impuro por natureza, e é necessário o processo real de purificação, que remove a mácula essencial para se alcançar a pureza. Pela circuncisão o pecador submete-se a um julgamento que purifica. Na sua essência, a circuncisão é um sinal de aliança entre Israel e o seu Deus, envolve purificação interior necessária ao estabelecimento de uma relação apropriada entre Deus, o criador santo, e a criatura profana. Essa relação de comunhão requer preparação: tanto o gentio quanto o judeu deve ser circuncidado antes deste privilégio. A circuncisão sob a velha aliança é substituída pelo batismo na nova aliança. O rito de purificação de uma aliança é substituído pelo rito de purificação da outra.

Capítulo 10

Moisés: A Aliança da Lei

A dispensação mosaica descasa diretamente sobre um relacionamento de aliança, em vez de relacionamento legal. A lei operou significativamente no período que precedeu a Moisés e opera significativamente no período posterior a Moisés. Deus renovou o comprometimento antigo com o seu povo pela aliança de Moisés. Sob a aliança mosaica, a lei apareceu como sumário exteriorizado da vontade de Deus. O cristão não vive debaixo de uma exteriorizada ministração da lei gravada em tábuas de pedra, pelo contrário, ele vive com a lei gravada em seu coração e assim cumpre a vontade de Deus. O crente é ativamente responsável em fazer uso dos meios de graça ao seu alcance. Se não obedece à lei de Deus, não viverá em estado de mais pleno gozo das bênçãos de Deus. A aliança da lei está progressivamente relacionada com a totalidade dos propósitos redentivos de Deus, ela é um avanço que vai além de todas as que a precederam, exige continuado relacionamento da graça, essa progressão redentiva de Deus não permite retrocesso. Constitui-se um avanço sobre a aliança abraâmica da promessa. Aquilo que era a própria essência da aliança mosaica representou um passo de progresso nos propósitos redentivos de Deus. A velha aliança pode ter vindo com glória, mas sua glória desvanecente dificilmente se compara com a glória permanente da nova aliança. Sob todos os aspectos, a nova aliança supera de forma mais gloriosa aquela que a precedeu. Cristo é o fim da lei para todo aquele que crê (Rm 12.4).

Capítulo 11

Excurso: Aliança ou Dispensações: Qual Destas Estrutura a Bíblia?

As iniciativas de Deus no estabelecimento dos relacionamentos de aliança estruturam a história da redenção. O dispensacionalismo tem-se colocado em oposição à teologia da aliança como meio de compreender a estrutura arquitetônica da revelação bíblica. O pensamento dispensacional mais recente, dispensação da “inocência” na obra de Ryrie, intitulada Dispensacionalismo Hoje, mostra que as responsabilidades de Adão envolviam manter o jardim e não comer do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal. Ryrie afirma, em outro lugar, que as dispensações “não são estágios na revelação da aliança da graça, mas ministrações distintamente diferentes da maneira como Deus dirige os negócios do mundo”. Na sua determinação de contrapor a perspectiva dispensacional à teologia da aliança, o autor removeu a promessa da redenção ao homem caído para longe da sua posição apropriada de estágio central. O dispensacionalista insiste em que se faça distinção entre o propósito de Deus para Israel como estabelecido na aliança abraâmica, e o propósito de Deus para as nações, estabelecido nessa mesma aliança, essa interpretação é feita com o intuito de ser “mais bíblica”, mas tem sido considerada uma dicotomia metafísica filosófica entre o reino material e o espiritual. Continua a questão: aliança ou dispensações – qual destas estrutura a Bíblia? O próprio dispensacionalista deve finalmente escolher entre estas duas alternativas, desde que ambas sejam apresentadas em seu próprio sistema, em conflito uma com a outra. Deve-se lembrar que as alianças são indicadores escrituristicos explícitos das iniciativas divinas que estruturam a história redentiva. As dispensações, ao contrário, representam imposições arbitrárias sobre a ordem bíblica. No fim, não é o desígnio humano, mas a iniciativa divina que estrutura a Escritura.

Capítulo 12

Davi: A Aliança do Reino

Na aliança davídica, os propósitos de Deus de redimir um povo para si mesmo atingem seu estágio culminante de realização; no que diz respeito ao A.T. Deus ungiu Davi como rei em Israel. Mas a inauguração formal da aliança do reino teria de esperar alguns outros acontecimentos. A interconexão entre o trono de Davi e o trono de Deus, entre o filho de Davi e o filho de Deus, encontra estrutura apropriada neste contexto histórico. A situação de descanso da opressão dos inimigos antecipa apropriadamente o reino escatológico da paz.

A essência da aliança se manifestou na relação de Deus com Davi. Embora errado em sua conclusão inicial, o profeta Natã certamente mostra-se correto com respeito à sua premissa básica quando declara “Vai, faze tudo quanto está no teu coração, porque o Senhor é contigo” (2 Sm 7.3). No coração da aliança davídica está o princípio Emanuel. Davi expressa o desejo de relacionamento e Deus responde com ênfase a proposta de Davi: “Edificarme-ás tu casa para a minha habitação?” (2 Sm 7.5). O Senhor inverte o modelo de pensamento ao dizer: “...também o Senhor te faz saber que ele, o Senhor, te fará casa” (v. 11). Obviamente que a casa que o Senhor prometeu a Davi não será um palácio real, desde que Davi já possuía uma casa de cedro (v. 2). Davi entende que a referência à “casa” era relativa à sua posteridade: “... também falaste a respeito da casa de teu servo para tempos distantes.” (v. 19). Davi não construirá a “casa” de Deus, mas Deus construirá a “casa” de Davi. A inversão de frases intercambia “lugar de habitação” com “dinastia”. O efeito claro deste intercâmbio na base da figura de “casa” é ligar governo de Davi ao governo de Deus.

Não há dúvidas que o reino de Deus foi realizado em Israel sob a linhagem de Davi tinha limitações evidentes. Este “reino” deve ser colocado na categoria de realização “antecipativa” em harmonia própria com o escopo inteiro da experiência do Antigo Testamento. O reino-sombra de Israel foi real. Deus reinava no meio dele. Mas, não obstante, era somente uma sombra da realidade por vir. A aliança que Deus estabeleceu com Davi ajustava-se integralmente ao propósito de Deus de redimir um povo para si mesmo. O Senhor dessa aliança não será impedido em sua intenção de tirar pecadores do reino das trevas para introduzi-los em seu gracioso domínio. Pode-se afirmar como enfaticamente verdadeiro que a aliança de Davi dependeu condicionalmente do cumprimento responsável das obrigações da aliança por Jesus Cristo, o descendente de Davi. Em Cristo, encontra-se em perfeita harmonia os aspectos condicionais e fixos da aliança. Nele, a aliança davídica encontra seguro cumprimento. O curso do futuro é determinado por causa de comprometimentos do Senhor da aliança no passado. A consumação dos propósitos da aliança de Deus ainda não se realizou. A projeção profética a respeito de um Davi maior se constrói sobre a garantia da aliança de Deus e antecipa a realização final de todas as promessas de Deus.

Capítulo 13

Cristo: A aliança da Consumação

A expulsão do povo de Deus da terra prometida, no tempo do exílio, dramatiza seu total fracasso sob a velha aliança. Esta manifestação de fatal deficiência na ministração da aliança não se relaciona apenas com a aliança mosaica da Lei, deve ser entendido também como o reverso da beneficência expressa na aliança com Abraão, esses fatos provaram que a falsa idéia de uma relação de aliança totalmente incondicional apoiava-se sobre suposição errada. Embora Israel houvesse falhado no cumprimento das suas responsabilidades sob a aliança, o Senhor Deus de Israel não falharia no seu propósito de estabelecer um grande povo e uma grande nação para glorificar o seu nome. Esta última aliança de Deus pode ser designada de a aliança da consumação, em virtude do seu papel específico de unir os vários filamentos da promessa de aliança da consumação através da história. O âmago desse cumprimento acha-se na pessoa do Cristo que consuma a aliança. A nova aliança não será firmada apenas com uma parte do povo de Deus. Pelo contrário, um marco da nova aliança será a união do povo de Deus em um povo, nação unida governada por um rei-pastor da linhagem de Davi. Aliança estabelecida por Deus corporativamente e não individualmente apenas, e nesse relacionamento de aliança, Deus não somente faz promessa sobre a salvação do crente individual; oferece também promessas com relação à “descendência” do participante da aliança.

Uma aliança fala de unidade. Pela aliança de Deus com seu povo ele pretende atingir unidade. Paulo fala sobre a unidade da aliança e afirma que ela é atingida na pessoa de Jesus Cristo, porque Deus é um e unidade com Deus, no sentido mais completo, se acha senão em Jesus Cristo é essencialmente e totalmente Deus. O povo de Deus é verdadeiramente um com ele na unidade da aliança que exclui todos os relacionamentos mediadores. Todo crente hoje é seu próprio sacerdote e intérprete da Escritura. Essa unidade essencial entre Deus e seu povo, tem sido alvo último da aliança ao longo da história.

BIBLIOGRAFIA:

ROBERTSON, O. Palmer. O Cristo dos Pactos. Uma análise exegética e teológica dos sucessivos pactos bíblicos e do seu papel no desenvolvimento da revelação de Deus. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2002.